terça-feira, abril 19, 2011


Diálogo sem fim

Depois de alguns encontros perdidos e escondidos, na primeira cruzada de olhar daquela dia e antes do quarto, da Itália, do estádio, do terraço, da varanda, da cama e do término sem fim:

Ela – O que foi?
Ele – Não é mais
Ela – Jura?
Ele – Será a partir de agora
Ela – O que você quer?
Ele – Você!
Ela – E o que mais?
Ele – Seu cheiro, seu...
Ela – Falo além de mim, o que você quer?
Ele – Quero pouca coisa pra ser muito seu.


(Silêncio por pouco tempo)


Ele – Você quer?
Ela – (Quando abriu a boca ele a interrompeu)
Ele – Quer que eu te queira? Quer me querer?
Ela – Eu só quero bem, muito...


(Ela passou a mão nos cabelos, ele olhou para o lado e os dois deram um gole)


Ela – Não acha melhor parar?
Ele – Não quer mais vinho?
Ela – Quero vinho, não sei se quero continuar
Ele – Você é capaz de me dar um motivo pra parar?
Ela – Desistir é mais sensato
Ele – Continuar é melhor, bom...
Ela – Faz bem?


(Mais um pouco de silêncio e vinho)


Ele – Você quer que eu vá embora?
Ela – Não e você sabe disso
Ele – Então fique, me deixe ficar
Ela – Só não quero que fique aqui, quero sempre
Ele – Quer ficar no quarto?
Ela – Agora sim
Ele – Falo de agora. Daqui a alguns anos estaremos...
Ela – Você acha?
Ele – Vamos?
Ela – Eu quero ir! Ao quarto, à Itália, à praia e até o fim.
Ele – Eu quero no estádio, no terraço, na cama, na varanda e nada de fim. E que termine assim, sem fim.
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Achei isso perdido pela minha agenda de 2006. Lembro que o escrevi no auge da minha crença no amor sem fim e ainda assim havia um rabisco embaixo: depois escrever o “Diálogo do fim”. Creio que sempre pensei que pode ter fim, ainda que não acabe. Curioso o surgimento e a insistência do que chamam de amor até quando é, no mínimo, findável. Fim. 


Linda: Amanda Deodato
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sexta-feira, abril 01, 2011


Desigual


Espero muito de mim.  Não admito não chegar onde planejei. Sinto dores na cabeça, no corpo e na alma. Nos três. Transpareço para poucos, mas a fragilidade volta e meia me pega pela mão e anda junto comigo. A cabeça dói porque parece que os pensamentos não cabem nela e não acham uma válvula pra escapulir. Meio panela de pressão, sabe? O corpo é o mais fácil de aliviar. Basta deitar e por as pernas pra cima no sofá lilás da minha sala de estar. A alma dói por querer estar tão ligada ao pensar. A alma não entende que é independente, que precisa seguir só, que é desigual, porque assim se fez. Tenta camuflar-se numa suposta coerência dependente daquilo que se acredita ser o correto, calculado, racional.
Quando se decide seguir na contramão, se esbarra ainda mais em obstáculos. Quando se decide ser desigual, se sofre a espera por aquilo que não se sabe se chegará. Apenas acredita-se. Apenas  se ousa caminhar por outra trilha, que poucos costumam seguir, mas que se resolveu pagar e sofrer as consequências para ver o que lhe aguarda. A espera talvez seja o que mais cause dor. Mas talvez seja ela o ingrediente principal do sabor de uma conquista.




Linda: Cecília Barbosa
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